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26 fevereiro 2021

A ponta do Iceberg

Por Carolina Vicente Cesetti

Doutoranda em Direito pela Universidade de Brasília Pesquisadora do Grupo de Estudos de Direito, Recursos Naturais  e Sustentabilidade (GERN/UnB)


Há três anos esta foto ganhou o prêmio de fotografia do ano[1]. A sua beleza é inegável uma vez que o Iceberg flutua tão próximo do continente, entretanto, a preocupação acerca das mudanças climáticas é explícita nesta imagem. Esta foto foi tirada perto de Ferryland, Newfoundland, Canadá em 16 de Abril de 2017. Os Icebergs não são estranhos na região, pelo contrário, na data da foto apenas em quatro meses houve 616 massas de gelo flutuantes nesta região canadense enquanto no ano inteiro de 2016 o total contabilizado foi de 687[2]. Essas calotas de gelo podem ser originadas do Ártico, como é o caso da foto, ou da Antártica, são, frequentemente, relacionadas ao aquecimento global.

 

O polo Sul e Norte são diretamente influenciados pela a elevação da temperatura no planeta. O Ártico, ou Polo Norte, em toda sua extensão abrange cerca de 21 milhões de quilômetros quadrados, compondo 65% do Oceano Glacial Ártico. O Polo Norte é composto por muitas ilhas além das partes continentais pertencentes aos Estados Unidos, Canadá, Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia. A Antártica, ou Polo Sul, é um continente coberto por gelo com mais de 14 milhões de quilômetros quadrados de extensão, correspondendo a 10% do Planeta. O Polo Sul é composto por ilhas que possuem imensa importância científica e biológica na regulação do clima planetário, pois são as regiões mais afetados pelo aquecimento global[3].

 

As consequências do aquecimento global nestas regiões são diversas, algumas da mais latentes e preocupantes são: o derretimento das geleiras polares do Ártico e da Antártica; a elevação do nível dos mares; o desaparecimento de países insulares; o aumento do ritmo das chuvas, dos furacões e das tormentas; o agravamento das regiões semiáridas e desérticas, representado pela falta de água; a alteração de vocação das regiões agrícolas; a proliferação de epidemias tropicais; entre muitos outros[4].

 

Uma das melhores fotografias do ano de 2017 é, na verdade, um reflexo das mudanças climáticas que afetam fortemente estas duas regiões congeladas da Terra. Há estudos que relatam a existência de um “Novo Ártico“[5] que é caracterizado por temperaturas mais quentes, presença de mais águas abertas, menos gelo oceânico, mais chuva e menos neve. Essa mudança foi constatada ao longo do verão de 2020 no Ártico. Sendo assim, desde que a bela foto do Iceberg se aproximando do continente foi tirada, a mudança é constante ao ponto de cientistas constatarem que há um novo clima no Polo Norte.

 

A indústria focada no turismo de Icebergs, seja no Ártico ou na Antártica, possui um papel educativo que vai além da imagem bonita que podemos ver. São visíveis as consequências do  aquecimento global no mundo inteiro, todavia, no Polo Norte as consequências são mais dramáticas uma vez que a região está se aquecendo duas a três vezes mais rápido do que qualquer outra região da Terra[6], provocando mudanças em todo o Oceano Ártico, seus ecossistemas e na população de 4 milhões de pessoas que vivem na região. No Oceano Antártico é estimado que seja armazenado 75% da absorção oceânica global do excesso de calor e certa de 35% da absorção de carbono da atmosfera, sendo o principal Oceano no armazenamento de calor e carbono para a Terra[7], o que afeta o Polo Sul e suas características.

 

Pensar nessa foto como apenas a ponta de um Iceberg, ou seja, apenas uma imagem que pode trazer tantos significados e preocupações acerca de temas tão relevantes, foi um dos principais objetivos desta breve reflexão. É possível compreender que estes Polos congelados do Globo estão muito mais próximos de nós do que imaginamos. Eles se aproximam da nossa realidade na medida em que consumimos com mais consciência e buscamos atitudes sustentáveis nas nossas rotinas. Espero que a foto não se torne uma mera lembrança para as futuras gerações destes universos congelados cheios de beleza e diversidade que envolvem a Terra.

 


[1] Disponível em: https://www.reuters.com/news/picture/pictures-of-the-year-environment-idUSRTX3KQLD acesso em 22 fev 2021.

[2] Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2017/apr/19/ferryland-iceberg-newfoundland-canada acesso em 22 de fev 2021.

[3] BARROS-PLATIAU, Ana Flávia. Antártica (ou Antártida). In: OLIVEIRA, Carina Costa; CESETTI, Carolina Vicente; MONTALVERNE, Tarin Frota; SILVA Solange Teles, GALINDO, George Rodrigo. Brasília, 2019. P. 13-26.

[4] MENDES, Henrique. A Efetividade do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no Brasil. In: BARROS-PLATIAU, Ana Flávia; VARELLA, Marcelo. A Efetividade do Direito Internacional Ambiental. Série Direito Ambientla. Volumme 5. UniCEUB. Brasília. 2017, p. 254-272.

[5] Disponível em: http://nsidc.org/arcticseaicenews/2020/09/suddenly-in-second-place/ acesso em 22 fev 2021.

[6] Disponível em: https://theconversation.com/arctic-ocean-climate-change-is-flooding-the-remote-north-with-light-and-new-species-150157 acesso em 22 fev 2021.

[7] Disponível em: https://theconversation.com/an-ocean-like-no-other-the-southern-oceans-ecological-richness-and-significance-for-global-climate-151084  acesso em 22 fev 2021.

 

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