Morte brutal de 1.400 golfinhos nas Ilhas Faroé
No dia 12 de setembro nas Ilhas Faroé, um território da Dinamarca, mais de 1.400 golfinhos-de-cara-branca foram mortos por caçadores nas águas rasas da praia de Skalabotnur em Eysturoy. O ocorrido foi denunciado pelo grupo de conservação marinha Sea Shepherd, como sendo a maior matança individual de cetáceos na história das ilhas [1]. Esse acontecimento já havia sido denunciado anteriormente por ocasião em que se discutiu o documentário Seaspiracy – Mar Vermelho[2].
A prática faz parte de uma tradição ancestral que já tem mais mil anos entre os moradores das Ilhas Faroé. A mesma foi regulamentada na mais antiga lei faroense, datada de 1298. O ritual, chamado de grindadráp ou grind, é iniciado quando os pescadores ou balsas no mar avistam golfinhos e os encurralam. Logo depois, os golfinhos são empurrados para uma baía, com barcos e até jet skis, e puxados para a praia com um gancho em seu respiradouro. Em seguida, a medula espinhal é cortada com uma faca[3].
De acordo com o governo das Ilhas Faroé cerca de 600 baleias-piloto são capturadas todos os anos, em média. Contudo, os golfinhos-de-cara-branca são capturados em números menores, como 35 em 2020 e 10 em 2019. Conforme os defensores da prática, a caça dos mamíferos marinhos é uma forma sustentável de coletar alimentos da natureza e uma parte significativa de sua identidade cultural. Todavia, ativistas que atuam pelos direitos dos animais, consideram a caça cruel e desnecessária[4].
O ocorrido em 12 de setembro de 2021 foi um tanto distinto pela grande quantidade de animais mortos na praia de Skalabotnur, o que chocou inclusive muitos moradores, além dos grupos conservacionistas. De acordo com o biólogo marinho Bjarni Mikkelsen das ilhas Faroé, os registros demonstram que este foi o maior número de golfinhos já assassinados em um dia no território. O recorde anterior era de 1.200 em 1940. As seguintes foram de 900 em 1879, 856 em 1873 e 854 em 1938 [5].
Em 1992 houve a fundação da Associação de Baleeiros das Ilhas Faroé, com o intuito de explicar e defender a caça tradicional de baleias nas ilhas. A Associação afirma que a caça é sustentável, regulada, e que visa manter a tradição local. Todavia, o presidente da Associação, Olavur Sjurdarberg, admitiu que em 2021 a quantidade de animais caçados foi excessiva. Mas mesmo assim a captura foi permitida pelas autoridades locais e nenhuma lei foi violada, tendo em vista que a caça é regulamentadas nas Ilhas[6].
Em contrapartida, o grupo Sea Shepherd, aponta que esta foi não somente a maior caça individual de golfinhos na história das Ilhas Faroé, mas possivelmente a de todo o mundo. Eles tem combatido o “grind” desde os anos de 1980, acusando a prática de não sustentável e cruel. Além disso, tem sido levantado que muitos caçadores violaram diversas leis faroenses que regulamentam a atividade. Por exemplo, muitos participantes não possuíam licença, o que é exigido nas Ilhas Faroé, visto que tem treinamento específico sobre como matar de forma rápida os golfinhos. Além disso, alguns golfinhos foram atropelados por barcos a motor, o que não faz parte da prática regulamentada em lei. As imagens mostram que muitos dos golfinhos ainda estavam vivos e se movendo, mesmo depois de serem jogados na costa [7].
De acordo com Rob Read, CEO da Sea Shepherd no Reino Unido, “é ultrajante que essa caçada ocorra em 2021 em uma comunidade insular europeia muito rica, a apenas 230 milhas do Reino Unido, sem necessidade ou uso para uma quantidade tão grande de carne contaminada”. Em concordância o capitão Alex Cornelissen, CEO global da Sea Shepherd, aduziu que “considerando os tempos em que vivemos, com uma pandemia global e o mundo parando, é absolutamente espantoso ver um ataque à natureza dessa escala nas Ilhas Faroé”, disse. “Se aprendemos alguma coisa com esta pandemia é que temos que viver em harmonia com a natureza, em vez de eliminá-la” [8].
As imagens da caça compartilhadas mundialmente tem gerado comoção e protestos ao redor do mundo. Como resposta, o primeiro-ministro Bárdur á Steig Nielsen, comunicou que “o governo decidiu implantar uma avaliação da regulação da captura dos golfinhos-de-laterais-brancas-do-atlântico”[9].
Espera-se que esse movimento do primeiro-ministro gere regras mais rígidas em relação a essas caças. Ademais, também seria desejável que União Europeia adotasse um posicionamento proibitivo, especialmente considerando que a depledação ou extinção desses animais terá repercussões para além da biodiversidade marinha das Ilhas de Faroé.
Por Rayanne Reis Rêgo Cutrim, estagiária do Instituto Brasileiro de Direito do Mar (IBDMAR), sob supervisão da Doutoranda Luciana Coelho.
REFERÊNCIAS:
ÉPOCA. Massacre de 14 mil golfinhos deixa mar vermelho de sangue nas Ilhas Faroé; veja video. O Globo. 14 de setembro de 2021. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/mundo/epoca/massacre-de-14-mil-golfinhos-deixa-mar-vermelho-de-sangue-nas-ilhas-faroe-veja-video-25197329>. Último acesso em: 01.10.2021.
MESQUITA, João Lara. Matança de golfinhos em Faroé provoca comoção mundial. Mar sem fim. Estadão. 25 de setembro de 2021. Disponível em: < https://marsemfim.com.br/matanca-de-golfinhos-em-faroe-provoca-comocao-mundial/>. Último acesso em: 01.10.2021.
NEVETT, Joshua. A revolta após matança de 1.400 golfinhos em um dia na Europa. BBC News. 15 de setembro de 2021. Disponível em: < https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58569416>. Último acesso em: 01.10.2021.
ORANGE, Richard. Outcry over killing of almost 1,500 dolphins on Faroe. The Guardian. 14 de setembro de 2021. Disponível em: https://www.theguardian.com/environment/2021/sep/14/outcry-over-killing-of-almost-1500-dolphins-on-faroe-islands>. Último acesso em: 01.10.2021.
RAVINDRAN, Jeevan; ALLEGRA, Stephanie; BRAITHWAITEDA, Sharon. Morte de 1.400 golfinhos nas Ilhas Faroe choca até defensores de caça tradicional.CNN Brasil. 16 de setembro de 2021. Disponível em:< https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/morte-de-1-400-golfinhos-nas-ilhas-faroe-choca-ate-defensores-de-caca-tradicional/>. Último acesso em: 01.10.2021.
SEA SHEPHERD. Morte e sofrimento brutais: a atividade de sempre nas Ilhas Faroé Sea Shepherd. Disponível em: < https://seashepherd.org.br/morte-e-sofrimento-brutais-a-atividade-de-sempre-nas-ilhas-faroe/>. Último acesso em: 01.10.2021.
SEA SHEPHERD. 1428 golfinhos mortos na noite de domingo nas Ilhas Faroé. Sea Shepherd. Disponível em: < https://seashepherd.org.br/1428-golfinhos-mortos-na-noite-de-domingo-nas-ilhas-faroe/>. Último acesso em: 01.10.2021.