Notícias

13 maio 2021

Poluição Marinha e a Crise Global de Saúde

Por Carolina Vicente Cesetti

Doutoranda em Direito pela Universidade de Brasília (UnB) Pesquisadora do Grupo de Estudos de Direito, Recursos Naturais  e Sustentabilidade (GERN/UnB)

 

Após o ano de 2020, fala-se muito em como prevenir uma futura pandemia e como evitar uma crise global de saúde. Esse é o intuito presente em todas as populações do mundo após vivermos mais de um ano dentro de casa e com medo desta doença tão imprevisível. Nesta busca de compreender as possíveis origens de novas doenças, é possível conectar a poluição marinha com a saúde humana que já é afetada diretamente e indiretamente por doenças que podem se originar do lixo despejado no ambiente marinho.

 

Em estudo publicado em Dezembro de 2020 pela Boston College em seus anais Global Health[1], foi possível compreender um pouco mais sobre a extensão do perigo que a poluição dos oceanos pode causar na saúde humana. Esses perigos foram analisados para além dos plásticos que são mais popularmente conhecidos, ou melhor, que são cada vez menos populares devido a uma maior conscientização quanto ao seu uso exacerbado.

 

A poluição dos oceanos é um problema mundial e pouco controlado. O artigo constata que mais de 80% do lixo marinho é originado de fontes terrestres, chegando ao oceano por meio de rios, escoamento, deposição da atmosfera e despejo direto. O oceano sofre com uma venenosa mistura originada do lixo humano, tais como metais tóxicos, plásticos, produtos químicos manufaturados, petróleo, resíduos urbanos e industriais, pesticidas, fertilizantes, produtos químicos farmacêuticos, escoamento agrícola e esgoto[2].

 

Cada elemento desta mistura tóxica de lixo, pode causar um efeito negativo diferente na saúde humana e tem o potencial de se alastrar pelo mundo todo, até porque a poluição do oceano não conhece fronteiras. Na didática e interessante imagem[3] feita pelo estudo da Boston College, é possível entender ainda melhor os níveis e camadas de cada tipo desta mistura venenosa que despejamos nos oceanos diariamente. Acerca dos elementos poluentes que têm efeito direto na saúde humana citados no estudo, merecem maior destaque o lixo plástico, o mercúrio, o derramamento de óleo, os resíduos industriais, o escoamento agrícola, o despejo de esgoto e aquecimento dos oceanos.

 

Ainda sobre a imagem citada anteriormente, a mesma foi feita em um formato de triangulo e a ponta do iceberg de poluição seria o lixo plástico. Ainda que seja o mais memorável nas nossas mentes quando pensamos do oceano, o lixo plástico ainda é apenas a ponta do iceberg no que diz respeito à saúde humana. É o tipo de lixo mais lembrado, pois além das companhas de conscientização, ele é o componente mais visível da poluição dos oceanos.

 

A maior parte dos dez milhões de toneladas de plástico que entram anualmente nos mares, se decompõe em partículas de micro plástico. Esse micro plástico podem ser em áreas profundas ou flutuantes quando ocorre uma concentração massiva que é chamada de “mancha de lixo” como ocorre no Oceano Pacífico. Essas partículas entram na cadeia alimentar dos peixes e crustáceos e já é notório que grande parte das pessoas já possuem micro plásticos nos corpos. Os micro plásticos contêm diversos substancias químicas que são muito resistentes, estas podem interferir nos hormônios e podem causar câncer, defeitos congênitos e redução da fertilidade[4].

 

Sobre outras fontes químicas de lixo que podem ser extremamente prejudiciais à saúde humana, é possível destacar o mercúrio originado da queima de carvão de industrias ou residências. O mercúrio é consumido por peixes predadores que também são consumidos pelos humanos. A exposição de mercúrio pode causar doenças cardíacas e demência, em mulheres gravidas é ainda mais grave e pode danificar desenvolvimento cerebral e aumento de riscos de doenças que envolvem distúrbios de aprendizado[5].

 

Ainda sobre as origens da poluição marinha, uma muito prejudicial são os poluentes de petróleo por derramamento de óleo. O derramamento ameaça microrganismos marinhos e afetam sua capacidade de fotossíntese. Outro fator que estimula a proliferação de algas nocivas são os resíduos industriais, pesticidas, escoamento agrícola e despejo de esgoto. Essas algas podem provocar as marés vermelhas, marrons e verdes. Quando ingeridas, essas toxinas podem causar demência, amnésia, paralisia e até morte rápida. Quando inalados, podem causar asma. Por fim, o estudo destacou os microrganismos perigosos resultantes da poluição costeira e aquecimento dos oceanos, como a espécie da bactéria nociva chamada vibrião. Essa bactéria pode ser potencialmente fatal e causar doenças como a cólera, originada do vibrio cholerae.

 

Os pontos mais impactantes do estudo foram tratados e demonstram a inegável relação entre a saúde dos oceanos com a saúde humana. O oceano deve ser levado em consideração na análise da crise global da saúde que vivemos atualmente, o consumo de animais que estão intoxicados por substâncias originados do lixo humano.

 

O estudo oferece algumas recomendações claras para prevenir e controlar a poluição dos oceanos, incluindo a transição para uma energia mais limpa, o desenvolvimento de alternativas acessíveis aos plásticos baseados em combustíveis fósseis, a redução das descargas humanas, agrícolas e industriais e a expansão das áreas marinhas protegidas. Reconhecer a gravidade da poluição dos oceanos  é dever dos representantes políticos, das empresas e da sociedade civil na elaboração de politicas publica que serão essenciais para prevenir a poluição dos oceanos e proteger nossa própria saúde.

 

[1] LANDRIGAN, Philipe and others. Human Health and Ocean Pollution. Annals of Global Health. Boston College. Publicado em 03 Dez 2020. Disponível em: https://annalsofglobalhealth.org/article/10.5334/aogh.2831/ Acesso em 13 de mai. 2021.

[2] LANDRIGAN, Philipe and others. Human Health and Ocean Pollution. Annals of Global Health. Boston College. Publicado em 03 Dez 2020. Disponível em: https://annalsofglobalhealth.org/article/10.5334/aogh.2831/ Acesso em 13 de mai. 2021.

[3] LANDRIGAN, Philipe and others. Human Health and Ocean Pollution. Annals of Global Health. Boston College. Publicado em 03 Dez 2020. Disponível em: https://annalsofglobalhealth.org/article/10.5334/aogh.2831/agh-86-1-2831-g1.png/?action=download Acesso em 13 de mai. 2021.

[4] LANDRIGAN, Philipe and others. Human Health and Ocean Pollution. Annals of Global Health. Boston College. Publicado em 03 Dez 2020. Disponível em: https://annalsofglobalhealth.org/article/10.5334/aogh.2831/ Acesso em 13 de mai. 2021.

[5] LANDRIGAN, Philipe and others. Human Health and Ocean Pollution. Annals of Global Health. Boston College. Publicado em 03 Dez 2020. Disponível em: https://annalsofglobalhealth.org/article/10.5334/aogh.2831/ Acesso em 13 de mai. 2021.

Share via
Copy link
Powered by Social Snap