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11 maio 2021

Mayflower400: O desafio da automação em navios

Por Carla Adriana C Gibertoni Fregona, Advogada e consultora jurídica, Sócia do escritório Pádua Advogados, Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Barcelona, Autora do livro Teoria e Prática do Direito Marítimo, Professora convidada em cursos de Pós graduação em Direito Marítimo, Portuário e Aduaneiro.

O mundo está mudando de forma rápida e veloz e, embora o ritmo e o impacto dos desenvolvimentos tecnológicos sejam diferentes de um setor para outro, os fabricantes de equipamentos navais desempenham um papel muito ativo na inovação e no desenvolvimento de navios autônomos.Sobre automação, é importante fazer uma distinção entre navios autônomos e navios não tripulados/controlados remotamente. Navios autônomos utilizam automação para complementar ou apoiar a tomada de decisões a bordo ou gerenciar tarefas de rotina repetitivas. Já os navios não tripulados / controlados remotamente a utilizam para permitir que os operadores em terra monitorem e controlem as funções a bordo.Os navios autônomos são aqueles que operam na superfície da água sem nenhuma tripulação presente no navio. Eles são pilotados por meio de inteligência artificial e podem ser embarcações não tripuladas, funcionando como uma espécie de drone marítimo. [1] Os componentes usados ​​em navios autônomos serviços como IoT, Inteligência Artificial (IA) e outros, os ajudam a seguir os planos da missão, ajustar a sua execução e dar continuidade a partir de uma lógica.[2]Os investidores e stakeholders  do setor marítimo vêm aguardando a automação há algum tempo. E, certamente, ela tende a evoluir com base na viabilidade econômica, aceitação do risco inerente aos sistemas complexos, no desenvolvimento de um regime regulatório e na política das administrações nacionais sobre segurança marítima.Um dos principais fatores que impulsionam a participação no mercado de navios autônomos é o aumento do comércio marítimo em todo o mundo. No entanto, a demanda por navios inteligentes e autônomos pode diminuir o envolvimento do ser humano na operação. Como seria a relação do elemento humano com a automação? Como será o equilíbrio entre os sistemas autônomos e o controle humano e a responsabilidade pelo gerenciamento dos sistemas autônomos? Quem será o responsável em casos de incidentes? Navios controlados remotamente, não tripulados, dependerão de sistemas complexos interdependentes com comunicação, bem como de troca de dados digitais com interface com vários sistemas e sensores autônomos de engenharia e navegação a bordo. A confiabilidade, robustez, integridade e segurança cibernética destes apresentam desafios técnicos significativos.

O primeiro navio totalmente autônomo do mundo (Mayflower 400) cruzará o oceano Atlântico de Plymouth, na Inglaterra, até a cidade de mesmo nome em Massachusetts, nos EUA. Essa mesma viagem para Plymouth, Massachusetts, foi feita pelos peregrinos no “Mayflower” original em 1620, em busca de uma nova vida na América. A partida para o alto mar deve acontecer no próximo dia 15 de maio e levará cerca de três semanas.[3]

Isso mesmo!

Sem um capitão humano ou equipe de bordo, o Mayflower Autonomous Ship (MAS) usa inteligência artificial e a energia solar para viajar mais além e nos revelar mais sobre o oceano. Trabalhando em conjunto com cientistas e outros navios autônomos, o MAS oferece uma plataforma flexível e econômica para aprofundar o entendimento sobre questões críticas, como as mudanças climáticas, a poluição oceânica por plásticos e a conservação de mamíferos marinhos. [4] Em paralelo, o desenvolvimento de sistemas marinhos autônomos promete transformar as indústrias relacionadas aos oceanos, tais como shipping, oil & gas, telecomunicações, segurança e defesa, assim como pesca e aquacultura.[5]

O navio não foi feito para transportar pessoas, mas sim para realizar pesquisas sobre um tipo marinha e rastrear ma míferos aquáticos durante o trajeto. O desenvolvimento do seu “capitão inteligente” (Smart Capitain), a inteligência artificial a bordo, demorou muito tempo, porque o computador teve que aprender a identificar obstáculos marítimos por meio da análise de milhares de fotografias. Ele será capaz de detectar e identificar a presença de mamíferos marinhos, reconhecer populações aquáticas e coletar amostras de microplásticos existentes na água.

Ele foi treinado em cenários simulados para enfrentar calmarias e tempestades com ondas de até 50 metros de altura. Além disso, ele tem capacidade para analisar a composição química e o nível do mar nas regiões por onde passar.[6] Por causa da falta de regulamentos sobre a navegação não tripulada, o Mayflower 400 ainda não foi testado em mar agitado ou tempestades.

Embora o navio seja totalmente autônomo, a equipe irá monitorar o navio em terra firma, 24 horas por dia, a partir da Inglaterra, pronta para intervir remotamente em caso de perigo ou caso algo saia errado.

Vamos acompanhar a viagem!

 

 

 

 

[1] Worldwide Autonomous Ships Industry to 2030 – Anticipated Trend of Automation in Marine Transportation Presents Opportunities. Disponível em https://www.prnewswire.com/news-releases/worldwide-autonomous-ships-industry-to-2030—anticipated-trend-of-automation-in-marine-transportation-presents-opportunities-301273766.html

[2] Worldwide Autonomous Ships Industry to 2030 – Anticipated Trend of Automation in Marine Transportation Presents Opportunities. Disponível em https://www.prnewswire.com/news-releases/worldwide-autonomous-ships-industry-to-2030—anticipated-trend-of-automation-in-marine-transportation-presents-opportunities-301273766.html

[3] MINARI, Gustavo. O primeiro navio autônomo do mundo está pronto para zarpar. Disponível em https://canaltech.com.br/inovacao/primeiro-navio-autonomo-do-mundo-esta-pronto-para-zarpar-183932/.

[4] The Mayflower Autonomous Ship. Disponível em https://newsroom.ibm.com/then-and-now

[5] ibid.

[6] WAKKA, Wagner. Mayflower é o primeiro navio autônomo que deve cruzar o Atlântico em 2020. Disponível em  https://canaltech.com.br/meio-ambiente/mayflower-e-o-primeiro-navio-autonomo-que-deve-cruzar-o-atlantico-em-2020-152659/

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