Reflexos do bloqueio do Canal de Suez pelo navio Ever Given
No dia 23 de março de 2021, o navio Ever Given, um cargueiro de aproximadamente 220 mil toneladas e 400 metros de comprimento, encalhou na margem do Canal de Suez após uma rajada de vento, bloqueando-o durante seis dias. O incidente causou um grande congestionamento naval, deixando centenas de embarcações presas em ambos os lados do canal, aguardando pela resolução do problema.
Dessa forma, o custo do frete marítimo, já abalado pela pandemia do coronavírus, que gerou interrupções no fluxo normal do comércio devido aos lockdowns, novamente disparou [1]. Os preços dos produtos de exportação também foram diretamente impactados, em virtude da especulação do mercado diante das incertezas causadas pelo incidente.
A repercussão do ocorrido deve-se à importância do Canal de Suez, que se destaca como uma das vias marítimas mais utilizadas para o transporte de mercadorias e matérias primas. O canal, atualmente controlado pelo governo egípcio, conecta o Mar Vermelho ao Mar Mediterrâneo, permitindo o transporte entre a Ásia e a Europa sem a necessidade de contornar a África, reduzindo, assim, o tempo e os custos da viagem. Por ele passam diariamente cerca de 12% do comércio global, 1 milhão de barris de petróleo e 8% do gás natural liquefeito [2].
Em outros números, estima-se que 50 embarcações passam pelo canal todos os dias levando cerca de 9,5 bilhões de dólares em mercadorias. Segundo a Autoridade do Canal de Suez (ACS), o prejuízo diário do bloqueio seria em torno de 14 a 15 milhões de dólares. Para além disso, a seguradora alemã Allianz avaliou que o bloqueio pode custar ao comércio global entre 6 a 10 bilhões de dólares por semana e reduzir o crescimento anual do comércio em 0,2% a 0,4% [2].
À vista disso, os esforços para desencalhar o navio e liberar o canal o quanto antes foram intensos, a fim de refrear o aumento dos prejuízos. Foram utilizados retroescavadeiras e equipamentos de dragagem para retirar areia da margem e, ainda, navios rebocadores para puxar o Ever Given. Além disso, foi necessário retirar parte do peso da embarcação para facilitar a operação.
A notícia do desencalhe do navio levou a uma queda no preço do petróleo, que havia aumentado devido ao incidente. Entretanto, a normalização do tráfego no canal ocorreu apenas no dia 3 de abril, de modo que o valor e a disponibilidade dos produtos ao redor do mundo continuaram sofrendo com os reflexos do bloqueio [3].
Diversos contratos foram afetados com o incidente em virtude do atraso na entrega das mercadorias ou, ainda, pelo aumento do gasto devido à necessidade de utilização de uma rota ou meio de transporte alternativo. A economia do Egito também foi diretamente impactada pelo bloqueio, visto que o canal é uma importante fonte de renda do país.
Diante desse cenário, a empresa japonesa Shoei Kisen, dona do navio Ever Given, pode ainda ter que arcar com indenizações aos navios que tiveram sua trajetória interrompida pelo bloqueio, bem como aos donos das mercadorias que estavam sendo transportadas. Também é necessário o reembolso dos gastos com o desencalhe do navio e compensação pelos danos causados ao canal.
Nesse sentido, o Estado egípcio exigiu, como compensação pelas perdas e danos decorrentes do bloqueio do canal, o montante de 1 bilhão de dólares para a liberação do Ever Given, que está retido enquanto são realizadas as investigações sobre a causa do incidente. Além disso, algumas empresas já entraram com pedidos junto a seguradoras a fim de obter o ressarcimento pelos prejuízos sofridos com o atraso ou com a perda dos produtos devido à paralisação do canal [4].
Referências:
[1] Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/2021/03/27/navio-encalhado-aprofunda-caos-na-navegacao-e-impacto-pode-chegar-ao-seu-bolso. Acesso em 13 de abril de 2021.
[2] Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-56571732. Acesso em 12 de abril de 2021.
[3] Disponível em: https://www.poder360.com.br/internacional/canal-de-suez-normaliza-trafego-5-dias-depois-de-liberacao-de-navio/. Acesso em 13 de abril de 2021.
[4] Disponível em: https://noticias.r7.com/internacional/egito-exige-r-57-bi-para-liberar-navio-que-parou-o-canal-de-suez-12042021. Acesso em 12 de abril de 2021.