Um mar de cultura #1: O isolamento e um oceano de saudade

Por Soraya Fonteneles de Menezes

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Há algum tempo, imaginava como abrir um espaço nas páginas do IBDMAR de modo a colocar em detaque o mar e a cultura. Já nesse momento inicial ficou claro como é vasto o assunto, englobando as mais variadas  manifestações abstratas derivadas da relação do homem com o mar.

A página “Década do Oceano”[1] da ONU(2021-2030), em um texto oriundo da Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da Unesco, nos brinda com uma colocação marcante sobre o tema: “Simply put, our relationship with the ocean should be recognized as a culture – na ocean culture that involves knowledge, respect, art, customs and is embroidered into the fabric of our lives.”[2]

Não há dúvida de que o ano de 2020 foi marcado brutalmente da pandemia e as tentativas de reduzir seus impactos. Dentre eles, um rígido isolamento social dos que podiam na tentativa de reduzir o contágio – sem entrar no mérito da medida. Aos que seguem fielmente as recomendações dos epidemiologistas, resta um oceano de saudade do mar.

Poucas pessoas escreveram como tamanha delicadeza sobre o oceano como Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), uma poetisa portuguesa do século XX,  agraciada com um Prêmio Camões em 1999. Grande parte de sua escrita tem o mar como temática, com livros inteiros dedicados ao assunto.

Suas palavras estão projetadas na exposição principal do Oceanário de Liboa desde sua inauguração – um grande feito em um país com tantos poetas homens consagrados. Lastimavelmente, sua obra é pouco conhecida no Brasil – como se o Atlântico ainda fosse um abismo entre nós.

Finalmente, segue um poema[3]  da autora:

MAR

            De todos os cantos do Mundo

            Amo com um amor mais for e mais profundo

            Aquela praia extasiada e nua

            Onde me uni ao mar, ao vendo e à lua.

           

            Cheiro a terra as árvores e o vento

            Que a Primavera enche de perfumes

            Mas neles só quero e só procuro

            A selvagem exaltação das ondas

            Subindo para os astros como um grito puro.

O projeto a cultura e o mar será publicado esporadicamente e não concorre com a as colunas, que voltarão à ativa na próxima semana. Afinal, os colunistas também precisavam colocar em dia tanto material espetacular no canal do youtube do IBDMAR referente à Semana do Mar!

 

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[1] A expressão em verdade é uma simplificação do nome de oficial dado pela ONU em 2017 ao instituí-la: “Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável”

[2] Fonte: https://www.oceandecade.org/news/26/UNESCO-launches-Ocean-Literacy-programme-in-Brazil

[3] Diversos poemas da autora podem ser lidos nesse site, de onde foi retirado o poema apresentado: https://www.escritas.org/pt/sophia-de-mello-breyner-andresen