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17 setembro 2020

Como a acidificação dos oceanos impacta as nossas vidas?

Recentemente, o Vice-presidente para o Mar da Comissão Mundial para as Áreas Protegidas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o Dr. Dan Laffoley, afirmou que “o mundo parece estar a ficar obcecado com o que está a acontecer em terra e na atmosfera, não se apercebendo de que a vida na Terra depende totalmente do oceano, que alberga 98% das espécies do planeta”. Essa afirmação solicita que mudemos a nosso foco de preocupação. Especialmente se considerarmos que nos últimos 200 anos, cerca de 30% das emissões de gases de efeito estufa foram absorvidas pelos oceanos.[1]

Aponta-se que o fenômeno da acidificação foi uma decorrência da primeira revolução industrial, quando a emissão de poluentes, principalmente combustíveis fósseis, aumentou drasticamente. Parte do dióxido de carbono (CO2) emitido em grande escala na atmosfera é absorvido pelos oceanos. Esse CO2 reage com a água para criar ácido carbônico, o que faz diminuir tanto o pH da água do mar, causando o aumento da acidez da água do mar, quanto a concentração do íon carbonato nesse ambiente[2]. O íon carbonato é essencial para a calcificação, isto é, um processo fundamental para a criação do esqueleto de carbonato de cálcio, como os presentes nos corais[3]. A acidez elevada causa graves efeitos nos ecossistemas marinhos, como impactos na cadeia alimentar, uma diminuição na taxa de crescimento do esqueleto em corais, responsáveis pela construção de cadeias de recifes, e redução na sobrevivência de espécies, principalmente mariscos, algas, corais, plâncton e moluscos,

O efeito cumulativo do nível de concentração de CO2 nos oceanos tem preocupado cientistas no mundo inteiro. De acordo com um estudo feito pelo Instituo Oceanográfico da Universidade de São Paulo, “o esgotamento de sua [oceanos] capacidade de retenção de CO2 é preocupante pois, além de significar que quantidades ainda maiores do gás ficarão soltos na atmosfera, agravando o aquecimento global, isso implica em níveis de concentração da substância no oceano que mudarão radicalmente o equilíbrio desse ecossistema.” [4]

De fato, a acidificação dos oceanos já afeta diversos ecossistemas. Por exemplo, nos Estados Unidos, esse fenômeno gerou a morte de milhares de ostras na costa de Oregon. Embora os proprietários da incubadora de mariscos acreditassem ter sido uma contaminação por bactérias, uma pesquisa científica determinou que a morte foi resultado da acidificação dos oceanos, pois impediu que as espécies marinhas formassem conchas adequadamente[5].

Com o intuito de implementar ações urgentes para ajustar ou mitigar a acidificação dos oceanos, a UNESCO, juntamente com a Rio+20, desenvolveram ações com o intuito de retardar os efeitos desse fenômeno tão prejudicial para os ecossistemas marinhos[6]. Primeiramente, será desenvolvido um programa interdisciplinar sobre avaliação de risco da acidificação dos oceanos, fornecendo previsões globais, regionais e nacionais e sobre os impactos socioeconômicos aptos a subsidiar os tomadores de decisões. Também serão promovidas pesquisas e capacitação nessa temática para a melhor compreensão dos impactos da acidificação dos oceanos nos ecossistemas marinhos. Por fim, propõem-se inserir nas negociações da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC) considerações sobre o impacto negativo dos produtos químicos nos oceanos[7].

A adoção de medidas urgentes tem o potencial de evitar que a aproximação a níveis preocupantes da acidificação dos oceanos, capazes de reverter os impactos e salvar ecossistemas que hoje se encontram em perigo. Dessa forma, espera-se que a maioria dos Estados, inclusive o Brasil, alinhem-se com as ações propostas pela UNESCO e Rio+20.


[1] SABINE, Christopher L et al. The Oceanic Sink for Anthropogenic CO2. Vol. 305. 16 JUL 2004: 367-371. Disponível em https://science.sciencemag.org/content/305/5682/367. Acesso em 31 ago. 2020.

[2] MARTINS, Leandra Rajczuk. Acidificação dos oceanos afeta animais marinhos e ameaça equilíbrio trófico. Agência Universitária de Notícias, 2017. Disponível em http://paineira.usp.br/aun/index.php/2017/04/24/acidificacao-dos-oceanos-afeta-animais-marinhos-e-ameaca-equilibrio-trofico/.  Acesso em 31 agos. 2020.

[3] AIRES, Luiz. Acidificação dos oceanos: um grave problema para o planeta. E-cycle, 2017. Disponível em https://www.ecycle.com.br/1382-acidificacao-dos-oceanos. Acesso em 28 agos. 2020.

[4] MARTINS, Leandra Rajczuk. Acidificação dos oceanos afeta animais marinhos e ameaça equilíbrio trófico. Agência Universitária de Notícias, 2017. Disponível em http://paineira.usp.br/aun/index.php/2017/04/24/acidificacao-dos-oceanos-afeta-animais-marinhos-e-ameaca-equilibrio-trofico/.  Acesso em 31 agos. 2020.

[5]What is ocean acidification?. Yale Climate Connections, 2020.Disponível em https://yaleclimateconnections.org/2020/07/what-is-ocean-acidification/#:~:text=%E2%80%9CWhen%20you%20burn%20fossil%20fuels,more%20acidic%2C%E2%80%9D%20she%20says.&text=But%20outside%20of%20those%20tanks%2C%20ocean%20acidification%20threatens%20entire%20ecosystems. Acesso em 31 ago. 2020.

[6] Implementar ações urgentes para adaptar ou mitigar a acidificação dos oceanos. Unesco, 2017. Disponível em http://www.unesco.org/new/pt/natural-sciences/ioc-oceans/focus-areas/rio-20-ocean/10-proposals-for-the-ocean/1a-ocean-acidification/. Acesso em 4 set. 2020.

[7] Implementar ações urgentes para adaptar ou mitigar a acidificação dos oceanos. Unesco, 2017. Disponível em http://www.unesco.org/new/pt/natural-sciences/ioc-oceans/focus-areas/rio-20-ocean/10-proposals-for-the-ocean/1a-ocean-acidification/. Acesso em 4 set. 2020.

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