Lições aprendidas pela tripulação do USS Kidd (DDG 100) após surto de coronavírus em porta-aviões
A disseminação do coronavírus em navios, sejam eles militares ou civis, é facilitada pelo grande contato das pessoas dentro dessas embarcações, seja pela utilização das áreas ou de equipamentos comuns. Como agravante, o isolamento de doentes nesses espaços limitados, principalmente nos cruzeiros, em que os passageiros não estão acostumados com protocolos restritivos, é mais difícil.
Inicialmente, o plano do navio de guerra estadunidense USS Kidd (DDG 100) era percorrer a América Central em uma operação antidrogas. No entanto, em 20 de abril, cerca de um mês após a última parada em um porto, a sua tripulação teve o primeiro caso de COVID-19. Antes dessa contaminação, os oficiais da embarcação já começaram a adotar procedimentos contra o vírus. Para isso, eles aproveitaram os ensinamentos gerados pelo surto mal administrado da doença no porta-aviões USS Theodore Roosevelt (CVN 71) e também seguiram outras recomendações.
O porta-aviões Roosevelt operou continuadamente, apesar do aumento dos casos de COVID-19 na embarcação. Dos seus 4.900 membros mais de 1.100 foram infectados e um morreu por complicações da doença. Em 31 de março, quando o número de contaminados ultrapassou uma centena, o capitão Brett Crozier declarou em uma carta que não conseguiram conter o surto do vírus no porta-aviões e pediu para que a embarcação ancorada na Micronésia fosse evacuada.
Na carta, o comandante chegou a implorar pela retirada dos militares: “Se não agirmos agora, deixaremos de cuidar adequadamente de nossos recursos mais preciosos, nossos marinheiros”. No início, o Pentágono não autorizou a remoção da tripulação, garantindo que médicos e equipamentos seriam enviados para o USS Theodore Roosevelt. Porém, já no começo de abril, membros do navio foram retirados e colocados em quarentena em uma base na ilha de Guam.
Como consequência, em meados de junho, por meio de uma investigação aprofundada do caso, a Marinha dos Estados Unidos decidiu destituir o capitão Crozier e determinou que ele não poderá comandar outros navios. Os resultados da investigação identificaram diversos erros do capitão, como a não adesão a protocolos adequados para impedir a propagação da pandemia no navio e a demora na evacuação de marinheiros.
Diferentemente do Roosevelt, antes mesmo do primeiro caso da doença, o USS Kidd já adotou diversos protocolos contra a disseminação do COVID-19. A Marinha estadunidense enviou orientações de combate ao vírus para o navio, os próprios marinheiros confeccionaram máscaras de tecido para se protegerem e os responsáveis planejaram um cenário com o possível isolamento de membros doentes no espaço limitado da embarcação.
Apenas 3 dias após a confirmação de um membro infectado, uma equipe de médicos do Hospital Naval de Jacksonville foi para o navio colocar em prática as medidas necessárias. Assim, os militares identificados como contaminados foram isolados e antes do USS Kidd retornar a San Diego os profissionais de sáude testaram toda a tripulação. Os médicos também entregaram máscaras N-95 aos marinheiros, estabeleceram o aumento da frequência de limpeza das áreas comuns e garantiram que todos desinfetassem as mãos antes de entrarem nessas áreas.
A testagem em massa, o isolamento efetivo, a remoção de doentes mais graves para uma ilha próxima e a decisão de interromper a operação, retornando rapidamente para a terra firme antes que mais militares fossem contaminados, evitaram que um surto como o do USS Theodore Roosevelt acontecesse.
Após a experiência, os militares permaneceram em quarentena, o USS Kidd foi desinfectado e voltou a navegar em 10 de junho. Em uma carta aberta o seu capitão, Nathan Wemett, declarou “Hoje, voltamos ao mar mais fortes como resultado dos esforços combinados da região e da Marinha. Por causa dessa parceria, o USS Kidd parte para continuar sua missão de fornecer segurança e estabilidade a nossa nação e seus aliados, enquanto opera adiante, onde e quando for importante”.*
*Em tradução nossa. No original, em inglês: “Today, we return to sea stronger as a result of the combined efforts of the region and the Navy. Because of that partnership, USS Kidd sails away to continue its mission of providing security and stability to our Nation and her allies, while operating forward, where and when it matters”.
Notícia produzida por Lorena Souza Carvalho Marinho, estagiária do IBDMAR, sob a supervisão de Carina Costa de Oliveira, Professora da Faculdade de Direito da UnB, Colíder do Gern-UnB, Diretora do IBDMAR.