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15 junho 2020

Petroleiros iranianos chegam à Venezuela, apesar de bloqueio dos Estados Unidos

Em meio a uma crise econômica de grandes proporções, a Venezuela recorre à ajuda iraniana para paliar a escassez de combustível que assola o país há meses e que se intensificou com a pandemia de Covid-19, afetando a vida cotidiana de milhões de pessoas. Desde o dia 25 de maio de 2020, cinco navios-tanques iranianos, transportando 1,5 milhões de barris de gasolina começaram a chegar aos portos venezuelanos. A carga de cada petroleiro foi destinada a Refinaria El Palito, Porto de Punta Cardón, Porto Cabello e Complexo do Refino.

Os navios iranianos chegaram a ser escoltados por helicópteros e aviões de guerra das Forças Armadas venezuelanas, tendo em vista os receios de intervenção por parte dos Estados Unidos, que impõem embargos econômicos ao Irã e à Venezuela, em razão do caráter autoritário dos respectivos governos. No caso específico da Venezuela, os Estados Unidos tratam o governo de Nicolás Maduro como uma organização criminosa, tendo inclusive apresentado internamente denúncia criminal contra Maduro por narcotráfico, oferecendo recompensa de US$ 15 milhões a quem colaborar com sua detenção.

Diante deste cenário, o Presidente do Irã, Hassan Rouhani, declarou que qualquer ato hostil contra sua frota a caminho da Venezuela teria sérias consequências. No mesmo sentido, em 29 de maio de 2020, antes da chegada do último petroleiro em águas venezuelanas, o ex-diplomata iraniano Kourosh Ahmadi, em uma entrevista a Islamic Republic News Agency (IRNA) disse que a obstrução da rota de navios-tanque em águas internacionais, apesar de difícil execução, é contrária ao direito internacional, sendo o governo de Donald Trump conhecido por descumprir normas internacionais.

Em virtude das medidas unilaterais impostas pelos Estados Unidos, muitas empresas estrangeiras, especialmente aquelas dedicadas ao transporte marítimo, têm evitado atuar na Venezuela a fim de evitar dificuldades de funcionamento nos Estados Unidos. Por isso, a chegada dos petroleiros iranianos, escapando das ameaças estadunidenses, foi comemorada por Maduro, chefe do governo venezuelano, como uma vitória contra o “imperialismo supremacista”. Outros dirigentes venezuelanos, como Jorge Arreaza e Diosdado Cabello, agradeceram a ajuda iraniana e atribuíram o resultado à “diplomacia de paz em um mundo multipolar” de Maduro. Por sua vez, Mehdi Sanaei, um dos principais assessores do Ministro de Relações Exteriores do Irã, declarou que o feito é um importante evento histórico ao fazer prevalecer o direito internacional contra as ilícitas medidas unilaterais adotadas pelos Estados Unidos.

Há vários meses as refinarias venezuelanas El Palito e Cardón, da estatal Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) estavam fora de operação devido a avarias, o que causou um declínio acelerado na produção de petróleo bruto. O parque das refinarias, que já foi uma das maiores e mais eficientes do mundo, tem sofrido significativa deterioração desde 1999, quando Hugo Chávez foi eleito Presidente. Além do mais, as sanções econômicas norte-americanas têm impedido que a Venezuela obtenha, no mercado internacional, os componentes necessários para a produção de gasolina. Outras compras de petróleo também foram bloqueadas em virtude dessas sanções. Por isso, a aliança com países que se opõem aos Estados Unidos, como é o caso  do Irã, torna-se uma alternativa para atenuar os impactos internos do bloqueio econômico, garantindo à população venezuelana o abastecimento de gasolina por aproximadamente um mês. Até lá, espera-se que as refinarias venezuelanas possam retomar seu funcionamento normal e regularizar o abastecimento de combustíveis.

 

 

Notícia produzida por Carolinne Ferreira Viana, estagiária do IBDMAR, sob a supervisão de André de Paiva Toledo, professor da Escola Superior Dom Helder Câmara e diretor do IBDMAR.

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