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14 outubro 2019

Rápida expansão da poluição por óleo no litoral da Bahia ameaça saúde, economia e biodiversidade locais

No dia 12 de outubro celebrou-se o Dia Mundial para a Prevenção dos Desastres Naturais e o Dia do Mar. Paradoxalmente, na Bahia, os banhistas, que lotariam suas praias, foram substituídos por mutirões de limpeza do óleo que se espalha pelo litoral baiano.

As manchas de petróleo cru, que se alastram pelo litoral nordeste do Brasil desde o início de setembro, só foram identificadas na Bahia no dia 3 de outubro, especificamente no distrito de Mangue Seco, município de Jandaíra. Contudo, o óleo vem se espraiando em velocidade alarmante. Ao menos 23 praias baianas já foram atingidas pelo resíduo, atingindo os principais pontos turísticos do estado.

Milhares de famílias, que obtêm seu sustento do turismo, já começam a enfrentar dificuldades em manter sua atividade econômica, uma vez que a poluição afasta inevitavelmente os visitantes. Nas cidades baianas afetadas, em especial em Conde e Jandaíra, as barracas e restaurantes estão cada vez mais vazios, os vendedores ambulantes não têm a mesma procura e o setor hoteleiro tem sofrido com os cancelamentos das reservas.

No âmbito econômico, outro setor afetado é o pesqueiro. Em Conde, por exemplo, onde a captura diária chega a uma tonelada, a colônia de pescadores emitiu alerta para que as embarcações não saiam ao mar. A impossibilidade de pesca também causa impactos sociais, visto que se trata de pesca, em sua maioria, de tipo artesanal ou de subsistência, sendo a principal ou única fonte de renda de muitas de famílias.

Já no dia 3 de outubro, o Projeto Tamar decidiu suspender a soltura dos filhotes de tartarugas marinhas nos municípios de Conde e Jandaíra. De acordo com a instituição, fez-se necessário agir preventivamente diante da incerteza acerca do comportamento do óleo no mar, cuja interação com os filhotes poderia ser fatal. Nesses municípios, ao menos uma tartaruga foi encontrada morta e outras três cobertas de óleo.

No dia 10 de outubro, criou-se o Comando Unificado de Incidentes, composto por representantes do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), Ibama, Secretaria Estadual de Turismo, Ministério Público Federal e Estadual, prefeituras das regiões litorâneas, dentre outras instituições e grupos ambientais especializados. Para a Diretora-Geral do Inema, Márcia Telleso principal empecilho às ações preventivas é a dificuldade de acompanhar o deslocamento do óleo, dado que as manchas são de sub-superfície e não são identificadas pelos sobrevoos.

Diante das dificuldades, a proposta do Comando é reunir-se diariamente para efetivar ações coordenadas, beneficiando-se da expertise de cada órgão. Algumas de suas frentes de ação consistem no fornecimento de Equipamento de Proteção Individual para potencializar a limpeza das praias, instalação de barreiras de proteção (semelhante ao realizado em Sergipe), orientação técnica para limpeza dos corais e organização quanto a destinação adequada dos resíduos coletados.

Além da atuação do Comando, o Governo do Estado da Bahia anunciou a preparação de um Decreto Estadual de Emergência de forma a liberar recursos para o municípios afetados, que seria assinado hoje, com o intuito de minimizar os impactos socioeconômicos da poluição marinha.

Chama a atenção o envolvimento da população baiana no combate à poluição. Na famosa Praia do Forte, no município de Mata de São João, por exemplo, onde está sediado o Projeto Tamar, até o dia 11 de outubro, havia sido identificada a presença de apenas pequenas manchas. Naquele dia, contudo, a praia amanheceu coberta por quantidade significativa de óleo. Antes da subida da maré, duas toneladas do resíduo já haviam sido retiradas da praia por um mutirão, composto por pelo menos 50 pessoas. Em todo o estado, organizam-se inúmeras ações de limpeza, das quais participam não apenas agentes públicos municipais, estaduais e federais, mas turistas, ambientalistas, moradores e trabalhadores locais.

Apesar do envolvimento da sociedade civil no combate à poluição marinha, é importante ressaltar o risco à saúde humana em razão do contato com o óleo nas praias. Os pedaços de resíduo, por vezes camuflados na areia, facilitam o contato acidental, que pode ocasionar irritações e alergias cutâneas. Por não ser digerido, o óleo se acumula nos tecidos. Daí as restrições à atividade de pesca.

Ao serem analisados os primeiros impactos humanos, econômicos e ambientais nos municípios da Bahia atingidos pelo óleo cru, há poucos mais de dez dias, conclui-se que não apenas as populações locais, mas todo o Brasil encontra-se diante de um gigantesco desafio, que deve ser enfrentado com rapidez e eficiência.

 

Notícia produzida por Manuela Marinho, estagiária do IBDMAR.

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