Semana Latino-Americana e Caribenha sobre o Clima: aquecimento global e soluções baseadas na natureza
Sob os slogans de “A Race We Can Win” e “Juntos pelo Clima”, a Semana Latino-Americana e Caribenha sobre o Clima recebeu, entre os dias 19 e 23 de agosto, na cidade de Salvador, Bahia, dirigentes, cientistas, empresários e demais membros da sociedade civil vindos de mais de 26países.
Visto que o Secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) detém a responsabilidade de principal fórum intergovernamental para negociar respostas às mudanças climáticas, a Semana, organizada em parceria com a Prefeitura de Salvador e lastreada nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, teve como propósito central a concretização do ODS de número 13: “Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos”.
Quanto aos efeitos da modificação climática nos oceanos e recursos hídricos, os debates se centraram na importância do Relatório Especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) sobre aquecimento global. Publicado em outubro de 2018, após a realização de mais de 6 mil estudos científicos pelo mundo, o Relatório evidencia a necessidade de se limitar o aumento das temperaturas médias em até 1,5°C, em relação aos níveis pré-industriais, fazendo um extenso comparativo com as drásticas consequências da antiga meta máxima de 2°C.
Estima o IPCC que a redução de 0,5°C consiga diminuir a temperatura dos oceanos, bem como, suas taxas de acidez e quedas do nível de oxigênio. Por consequência, reduziria também as ameaças à biodiversidade marinha e à produtividade da aquicultura, declinando os riscos de danos irreversíveis. Ressalta-se, por exemplo, que a mortalidade dos recifes de corais, antes prevista em mais de 99%, se limitaria a uma perda entre 70% e 90% a 1,5°C. Ademais, no Oceano Ártico, onde já são observados os impactos da mudança climática, essa atenuação limitaria o fenômeno do verão sem gelo a cada década para apenas uma vez por século.
Seja nos ecossistemas terrestres ou marinhos, o Relatório demonstra a dramática diferença de tão “pequena” variação térmica. Tampouco é pequeno o esforço a ser empreendido pelos Estados e sociedade civil, diante da recomendação de que se estabeleça um equilíbrio entre emissões e compensações de CO2, até 2050.
Uma estratégia aliada à ambiciosa meta do IPCC funda-se nas Soluções Baseadas na Natureza. Com a participação de nomes como Thelma Krug (Vice-Presidente do IPCC), Frederico Nogueira (Vice-Presidente IOC/UNESCO) e Isabel Torres de Noronha (Presidente da Future Ocean Alliance), a Semana do Clima promoveu o compartilhamento de experiências sobre a chamada infraestrutura verde para a redução do impacto nos oceanos e recursos hídricos. As SBN’s são focadas na conservação de ecossistemas e processos naturais na gestão dos recursos, além de promoverem uma economia circular, realizada pela e para a natureza. Ilustrativamente, este é o caso da utilização eficiente de algas para reduzir os níveis de acidez gerados pela maricultura, criando um ecossistema natural e composto de espécies complementares. Além de reduzir os efeitos da eutrofização, essa iniciativa aumenta e diversifica a produção dos criadores de peixes e mexilhões. Conciliando, portanto, ganhos ambientais e econômicos.
Outro grande foco da Semana Latino-Americana e Caribenha sobre o Clima foi compartir estratégias para implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC’s) de cada país, referentes ao Acordo de Paris. Cumpre ressaltar, contudo, que o Brasil pertence à minoria de assinantes do Acordo que não consideraram os oceanos em suas NDC’s. Os resultados discussões travadas durante a Semana serão levados a nível global na Conference of the Parties (COP 25), em dezembro de 2019, em Santiago, no Chile.
Notícia produzida por Manuela Marinho, estagiária do IBDMAR.