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05 setembro 2019

O furtivo Álvaro Alberto

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Por Giselli Nichols
Mestre em Estudos Marítimos pela Escola de Guerra Naval

 

O furtivo Álvaro Alberto

“Não há nada como o sonho para criar o futuro”. Quando estive na sede do PROSUB (Programa de Desenvolvimento de Submarinos) no verão do ano passado, não pude deixar de lembrar a célebre frase do escritor Vitor Hugo. Ela expressa de forma magistral a celebração de um dos mais desejados projetos da Marinha do Brasil, acalentado há várias décadas entre acordos e desacordos de políticas de governo.

Iniciado finalmente em 2009, o PROSUB completou dez anos no último dia 21 de agosto com motivos de sobra para festejar. Um deles, e talvez o mais esperado, é a construção do primeiro submarino de propulsão nuclear do Brasil. A nova fase, de celebração de acordos para a construção da seção de qualificação firmados no dia 8 do mesmo mês, deu uma dose a mais de ânimo e aumentou as expectativas de ver esse sonho virar realidade no prazo previsto de 2029.

Silencioso e furtivo, o SN-BR Álvaro Alberto terá a missão de vigiar e dissuadir o inimigo, sob as águas profundas do Atlântico. Em seu trajeto rápido e discreto, o submarino nuclear, juntamente com seus quatro novos parceiros convencionais S-BR, três deles ainda em construção, será o guardião da imensa Amazônia Azul, uma área marítima com 4,5 milhões de quilômetros quadrados repleta de riquezas inestimáveis. O gigante de aço singrará imponente as ondulantes águas de nossa costa, defendendo majestosamente a soberania de nossa nação.

Com o Álvaro Alberto, o Brasil entra para a restrita lista de países proprietários de submarinos embarcados com tecnologia nuclear, a mais complexa já construída pelo homem sob o ponto de vista tecnológico e logístico. Sendo de vasto alcance, o SN-BR poderá ficar submerso meses sem que seja necessário voltar à superfície, aumentando gigantescamente seu potencial furtivo e dissuasório, com autonomia limitada apenas às condições da tripulação e estoque de suprimentos.

Seus 100 metros de comprimento, nove metros de diâmetro e deslocamento de 6.500 toneladas submerso irão transportar uma tripulação de até 100 homens, a uma velocidade máxima de 20 nós. Comparados aos quatro submarinos convencionais de propulsão diesel-elétrica – projetados com 71 metros de comprimento, seis metros de diâmetro, deslocamento de 1.870 toneladas e 35 tripulantes –, o SN-BR Álvaro Alberto será uma linha divisória na história da Marinha do Brasil.

Batizado com o nome do vice-almirante e cientista brasileiro responsável pela implementação do Programa Nuclear Brasileiro na década de 1950, Álvaro Alberto da Mota e Silva, o submarino nuclear, que tem tecnologia francesa, está sendo construído pela Itaguaí Construções Navais (ICN), no Rio de Janeiro. O primeiro submarino convencional estabelecido no programa já foi lançado. O S-40 Riachuelo foi ao mar em dezembro de 2018 para sua fase de testes, antes de iniciar efetivamente sua primeira missão.

Distante mais de meio século do USS Nautilus – o primeiro navio de propulsão nuclear do mundo lançado pelos Estados Unidos da América (EUA) em 1954 –, o SN-BR Álvaro Alberto se tornará tanto um símbolo de autonomia operacional e tecnológica quanto de honra para nossos submarinistas e cidadãos brasileiros.

 

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