Após meio século desaparecido, submarino francês “Minerve” é localizado
Em 27 de janeiro de 1968, após quase seis anos de atividade, o submarino militar francês Minerve (S647), de propulsão diesel-elétrica, desapareceu na costa de Toulon (França), com 52 tripulantes a bordo.
O Minerve fazia um treinamento de rotina abaixo da superfície em tempo ruim quando afundou em quatro minutos, enquanto tentava retornar para a base em Toulon. O sismógrafo de Nice (França) registrou uma onda de choque em Toulon às 7h59’01” daquele dia, o que pode ser indício da explosão do casco do Minerve.
A causa mais provável refere-se a dano na barra de mergulho traseira, após um mau funcionamento do suprimento de óleo, resultando em um ângulo para mergulhar sem a possibilidade de manobra. Desde o desaparecimento do Minerve, diversas foram as teorias citadas para tentar explicar a possível causa do acidente, como uma avaria, uma colisão com um barco, a explosão de um míssil, um torpedo ou um acidente com o tubo de ventilação. Contudo, nenhuma informação sobre a causa do desastre foi confirmada pelas autoridades. Apesar dessas hipóteses, o inquérito aberto sobre o caso na Marinha francesa não pôde fixar uma causa precisa para o incidente.
Em um último contato com um avião de patrulha, os tripulantes avisaram que iriam atracar em sua base em aproximadamente uma hora. Porém, após um dia sem notícias do submarino, um alarme foi disparado e, imediatamente, uma operação de resgate guiada pelo experiente comandante Jacques Cousteau foi organizada com cerca de 20 barcos, helicópteros, aviões e um navio de mergulho. A busca não obteve sucesso e nenhum destroço foi encontrado.
Em 2018, no 50º aniversário do desaparecimento do submarino, as famílias das vítimas pediram a retomada das buscas, argumentando que as novas tecnologias navais poderiam ser úteis para encontrar o Minerve. Após o apelo, as operações recomeçaram no início deste ano na área mais provável da tragédia e utilizaram desde informações de índices das marés e correntes até dados sísmicos da época, coletados e reexaminados pela Comissão de Energias Alternativas e de Energia Atômica da França (CEA).
Em fevereiro passado, o Instituto Francês de Pesquisa para o Aproveitamento do Mar (IFREMER), em cooperação com a Marinha Francesa, fez um primeiro mapeamento da área de busca, graças a um navio equipado com um sonar. Em 4 de julho, um navio do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD, na sigla francesa) e robôs submarinos do IFREMER passaram a fazer um detalhamento dos fundos marinhos próximos de Toulon.
Destaca-se, nessa nova operação de resgate, a participação do navio estadunidense Seabed Constructor, que, em 17 de novembro de 2018, conseguiu localizar o submarino argentino ARA San Juan, que havia desaparecido no Oceano Atlântico, em 15 de novembro de 2017, com 44 tripulantes a bordo.
O Seabed Constructor, equipado com grandes tecnologias, incluindo câmeras coloridas de alta definição e sonares, que compõem uma imagem tridimensional do fundo do mar a uma profundidade de 6.000 metros. Além disso, um sistema de drones autônomos submarinos mergulham a uma velocidade de 3 a 11 Km/h, por um período de 52 a 72 horas. Toda essa tecnologia foi fundamental para encontrar, em 21 de julho de 2019, o Minerve a 45 quilômetros da costa de Toulon e a 2.370 metros de profundidade.
Em 22 de julho de 2019, a Ministra das Forças Armadas da França, Florence Parly, declarou que “acabamos de encontrar a Minerve. É um sucesso, um alívio e uma proeza técnica. Penso nas famílias que aguardaram esse momento por muito tempo.”* Além disso, a Ministra comunicou que em breve haverá uma cerimônia de homenagem aos 52 militares falecidos no acidente.
Em uma coletiva de imprensa, o Vice-Almirante, Charles-Henri du Ché, lembrou que o objetivo da missão não era encontrar as causas da tragédia, por ser algo muito complicado após tanto tempo. Além disso, ele afirmou que o submarino não será resgatado, visto que ele é tido pela Marinha Francesa como um “santuário marítimo”.
Submarino “Minerve”, a 45 quilômetros da costa de Toulon e a 2.370 metros de profundidade, em 21/07/2019.
*Em tradução nossa. No original, em francês: “Nous venons de retrouver la Minerve. C’est un succès, un soulagement et une prouesse technique. Je pense aux familles qui ont attendu ce moment si longtemps.”
Notícia produzida por Lorena Marinho, estagiária do IBDMAR.